5 anos ago · AJP · Comentários fechados em A mulher muçulmana
A mulher muçulmana
Quando se fala da mulher muçulmana, torna-se incontornável abordar a questão do uso do véu islâmico – hijab – que tem sido alvo de muitas vozes de apoio e de crítica. Nazma Khan, que emigrou para os EUA, do Bangladesh, aos 11 anos, após enfrentar anos de vergonha por usar véu islâmico em Nova Iorque, conseguiu, em 2013, que se instituísse o Dia Mundial do Hijab, a 1 de fevereiro
Para uma grande parte da mulher muçulmana, o uso do véu islâmico é uma forma de manifestação de liberdade religiosa, mas também de resistência aos padrões de beleza feminina. Muitas mulheres que usam o hijab sentem que assim se valorizam as suas qualificações, em vez das suas aparências, reduzindo comentários sexistas e abusos.
Há, no entanto, muito quem considere que o uso do hijab é um sinal da opressão. Mas não é necessariamente assim. Multiplicam-se os exemplos de mulheres que usam o hijab com orgulho. Vejam-se os casos da congressista norte-americana Ilhan Omar, da atleta Ibtihaj Muham-mad ou da supermodelo Halima Aden, afirmando esta que “Mulher nenhuma deveria ser forçada a usar um hijab e mulher nenhuma deve ser forçada a tirá-lo”.
Há que desconstruir a ideia de que o uso do hijab é sempre uma forma de opressão da mulher muçulmana. Questão diferente é o seu uso imposto, num cenário de repressão.
Em terras do Islão, depois de décadas de emancipação feminina, os ayatollahs instituíram a lapidação monstruosa e decretaram leis humilhantes que fazem da mulher uma cidadã de segunda categoria, em leituras enviesadas do Alcorão.
A mulher muçulmana viu-se relegada à condição de mercadoria. Tem enfrentado práticas desvalorizantes como a poligamia, o casamento forçado, a escravidão… Mas os tempos mudam e, num movimento à escala global, também as mulheres muçulmanas estão hoje em luta pela (re)conquista dos seus direitos e dignidade.
Veja-se o caso da desportista Kimia Alizadeh, que fez duras críticas à forma como as mulheres são tratadas no Irão. “Deverei começar com uma saudação, uma despedida ou condolências? Sou uma das milhões de mulheres oprimidas no Irão com a qual têm brincado há anos”.
Um exemplo da força e coragem que a mulher muçulmana está a conseguir demonstrar num ambiente tão hostil. Mas as mulheres muçulmanas não estão sozinhas. À escala internacional, a mulher luta para se impor, combatendo as políticas de silenciamento. O assunto é para ser falado, na expectativa da sua resolução.
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” (Simone Beauvoir).
Fernanda Amaral Sintra,
Vogal da Direção da AJP – Associação das Juízas Portuguesas
Jornal de Notícias, 28.02.2020
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