5 anos ago · AJP · Comentários fechados em As mulheres são os seus piores inimigos
As mulheres são os seus piores inimigos
Um facto incontornável. Desde que os homens vivem em sociedade que, a par de um espírito de solidariedade, existe uma necessidade incontrolável de competição. Competição essa que se constata não só entre homens, derivado do seu papel primário de protecção e sustento da família, como entre homens e mulheres e entre estas, fruto da evolução sociológica da Humanidade.
A exigência de igualdade de direitos entre homens e mulheres que se tem verificado na sociedade, bem como a constituição de grupos, instituições ou eventos que apresentam este escopo são, 99,99% das vezes, encarados pelos homens e, muitas vezes, também pelas mulheres, como uma agressão aos homens, que seriam vistos como responsáveis pela ainda actual desigualdade de direitos entre géneros.
Não podemos deixar de ter em consideração que, efectivamente, o Mundo esteve entregue aos homens durante séculos, em termos políticos, legislativos e económicos, cabendo a estes a responsabilidade pela ausência de direitos das mulheres nos mais variados sectores ao longo do tempo. As mulheres foram adquirindo direitos às suas próprias custas, com ícones bem conhecidos em várias áreas desde a política à literatura, e sempre com fortes reacções negativas por parte, não só dos homens, como das mulheres. E é precisamente a atitude destas últimas que me inquieta.
É certo que o Homem é um animal de hábitos e que instintivamente recusa mudanças. No entanto, o que me causa, sempre causou, grande estranheza e até aversão, é a constatação de as mulheres serem, muitas vezes, muito mais críticas e agressivas umas para com as outras, no caso concreto, limitada ao âmbito de defesa de direitos relevantes para a evolução da sociedade em termos de igualdade.
Todos nós já, em algum momento da vida, assistimos a situações em que uma mulher considerada de sucesso, seja pessoal ou profissional, faz questão de enfatizar as dificuldades e sacrifícios pelos quais passou para o conseguir atingir. Para, de seguida, os usar como arma de arremesso a outras mulheres que estão a percorrer o mesmo caminho. Mulheres que exigem, até mais do que os homens, que as demais sofram o que elas sofreram e abdiquem do que elas abdicaram, por considerarem que só assim será justo. Não são todas, felizmente. Mas são muitas.
E são as que fundamentam a célebre afirmação “As mulheres são as suas piores inimigas”. Afirmação usada na grande maioria das vezes por, pasme-se, homens, que o reconhecem melhor do que as próprias. São estes os primeiros a apontar a falta de solidariedade, apoio e colaboração existente entre mulheres, que não é global, mas infelizmente, demasiado frequente.
Será que as mulheres conseguirão, juntas, mudar esta mentalidade, colocar de lado a rivalidade que tantas vezes é constatada e colaborar para que as provações sofridas por algumas não tenham de ser experienciadas por outras? A bem da tão almejada igualdade de direitos? Tenho esperança que assim venha a suceder.
Carla Fraga,
Tesoureira da AJP – Associação das Juízas Portuguesas
Jornal de Notícias, 27.03.2020
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